Com mais de dez anos de carreira e oito álbuns de estúdio lançados, a banda Macaco Bong se consolidou como um dos principais nomes da música instrumental brasileira contemporânea, apresentando ao público uma sonoridade rica que mistura rock, blues, jazz e música regional.
Atualmente a banda promove “Mondo Verbero”, elogiado disco lançado no final do ano passado, gravado remotamente em razão da pandemia. Novamente, a banda acerta em cheio na mescla de estilos musicais, demonstrando autenticidade e habilidade para fugir das convenções rítmicas tradicionais.
Para conhecer melhor os detalhes que permeiam o álbum, conversamos com Bruno Kayapy, guitarrista da banda e produtor do trabalho. Além disso, ele também falou sobre influências musicais no jazz, objetivos e como é fazer música instrumental no Brasil.
Por Álvaro Silva
“Mondo Verbero” marca a volta de ex-integrantes da banda (o baterista Eder Noleto e o baixista Igor Carvalho). Como foi retomar essa formação?
Após diversas trocas de bateristas na banda, fiz um hiato de um ano para reformulá-la com o retorno do Igor e do Eder. Primeiro a gente foi conversando pelo Zoom, e, com a evolução das conversas, decidimos fazer um álbum remotamente. Assim nasceu o Mondo Verbero. O Eder gravou o álbum, mas não acompanhará a banda nos shows porque ficou difícil pra ele conciliar com as outras bandas que ele toca fixo hoje em dia. Desta forma, o Marcus Facchini foi efetivado como membro da banda e assumirá a bateria daqui pra frente.

Devido à pandemia, o álbum “Mondo Verbero” precisou ser gravado remotamente, né? Como foi trabalhar explorando esse formato? Você já estava habituado a ele?
Foi inovador para a nossa dinâmica interna de trabalho. Apesar do contato presencial envolver toda uma magia, do ponto de vista técnico e logístico, funcionou melhor em muitos aspectos comparado ao presencial.
Apesar de ser um trabalho instrumental, existe alguma temática/conceito especial embutido nas composições?
O Macaco Bong preza pela liberdade criativa. Nossas. O único parâmetro temático da banda é o que consideramos como música boa para nós e buscar fazer do nosso som tudo aquilo que a gente ama fazer.
O álbum está carregado de influências da música brasileira, o que não chega a ser novidade nos trabalhos da banda. Uma música que me chamou bastante atenção foi “Hacker de Sol”, uma canção “pegajosa”, que soa moderna, mas com raízes fincadas na música tradicional nordestina. Existiu alguma motivação ou inspiração especial na composição dela?
Bacurau! Eu gosto de filme “viajado”. Quando assisti a esse filme fiquei encantado com a ideia de se criar um suspense “nonsense” com aquele disco voador que vigiava a comunidade, os personagens super autênticos e a vibe do sertão nordestino. Na hora tive esse insight de fazer uma música baseada na maneira como absorvi o filme. Filmes no geral sempre foram um guia de referência em minhas composições.
Outro estilo bastante latente que permeia as faixas é o jazz. Quais são os artistas que te inspiram dentro desse gênero musical?
Talvez nem caberia em uma página.Gosto de artistas como Louis Armstrong, Countie Basie, Duke Ellington Jimmy Smith, Pat Metheny, Ella Fritzgeraldi, Egberto Gismonti, Hermeto Paschoal, Luiz Bonfá, Mike Stern, Miles Davis, Joe Zawinul, Weather Report e por aí vai. O jazz foi meu berço, sempre esteve presente na minha vida desde os primeiros dias na barriga da minha mãe. Aliás, meu pai é um guitarrista de mão cheia. Ele nunca seguiu carreira, mas sempre ouvia coisa boa em casa.
“Mondo Verbero” foi muito bem recebido pela crítica especializada. Você concorda que ele é um trabalho artisticamente mais ousado que os trabalhos anteriores?
Não acho que ele seja mais ousado que o Deixa Quieto. O Mondo Verbero foi pra mim o mais inovador e mais trabalhoso comparado a qualquer outro. A banda está com muito gás nesse disco.
A banda é referência no Brasil quando o assunto é rock instrumental. Existe algum objetivo almejado pela banda que ainda não foi conquistado?
Muitos! apesar do longo tempo de estrada, a banda ainda é relativamente nova e pouco conhecida. Nós nunca fizemos uma turnê na Europa e nem nos Estados Unidos. O que a gente mais almeja no momento é poder voltar aos palcos, seja onde for.
Além de ser guitarrista e principal compositor da banda, você também acumula a função de produtor. Ficar atrás da mesa de gravação e planejar o álbum é uma posição que te deixa confortável?
Muitas vezes na maior parte do tempo é uma delícia, mas é um saco ao mesmo tempo porque é um trampo triplicado ser músico, artista e produtor ao mesmo tempo. Isso me consome muito tempo e paciência.
Você acha que a música instrumental é pouco valorizada no Brasil (inclusive entre o público que gosta de rock)?
É sim! O Macaco Bong é uma das poucas bandas que circulam no midstream. Tem muita banda instrumental foda no Brasil que não tem as oportunidades que nós temos. Eu gostaria muito de ver isso, mas infelizmente o mercado como um todo é muito fechado para a cena instrumental. Os line-ups dos festivais do país sempre contam com os mesmos artistas, os editais aprovados são dos mesmos curadores, que de alguma forma, além de aprovar o projeto, também atuam na produção de muitos deles. Acontecem até mesmo casos de artistas e produtoras de peso que viram curadores de editais e conseguem emplacar os próprios projetos. Poucos da cena instrumental jogam este jogo do rato. A gente prefere focar na fidelização de um pequeno público e ser leal a isso, ou seja, plantar e colher somente aquilo que os fãs nos proporcionam.
Como andam os planos para 2022? Poderemos esperar alguma novidade da banda para este ano?
Os discos voltaram para as plataformas recentemente. Com relação aos shows, muitas questões estão em jogo. Vamos torcer para que estejamos todos seguros para em breve retomar os shows pra valer.
Maiores informações no site, Instagram e YouTube da Macaco Bong.
Ouça Mondo Verbero e outros álbuns da banda clicando aqui.