Um dos principais nomes do blues brasileiro, o guitarrista e compositor Marcos Ottaviano possui uma longeva carreira dedicada ao estilo, seja nos palcos ou atuando como professor.
Foi integrante do grupo Blue Jeans, tocou na banda de Celso Blues Boy e dividiu o palco com nomes consagrados como B.B. King, Magic Slim, Ronnie Wood (Rolling Stones), John Pizzarelli, Peter Tork (The Monkees), Bobby Keyes, dentre outros. Em estúdio, colaborou em mais de trinta álbuns de artistas de gêneros musicais variados.
Lançou dois álbuns de estúdio com o Blue Jeans, um DVD ao vivo com o saudoso bluesman Magic Slim, um disco em parceria com o também guitarrista Kiko Moura (“Marcos Ottaviano e Kiko Moura Project”) e dois discos como artista solo (“November 12 Sessions” e “Blood, Sweat & Electric”). Além disso, publicou dois livros dedicados ao blues (“Guitarra Blues do Tradicional ao Moderno Vol. I e Vol. II).
Durante o bate-papo, Marcos Ottaviano falou sobre quando começou a tocar guitarra, influências musicais, acontecimentos marcantes na carreira, planos para o future e muito mais.
Por Álvaro Silva (ahfsilva@gmail.com)
Foto de capa: Lincoln Baraccat
Quando você começou a tocar? Quais foram os fatores que levaram você a optar pela guitarra?
No começo dos anos 80 meu pai comprou um violão e minha irmã começou a tocar, foi ela quem me ensinou os primeiros acordes. Em casa ouvíamos de tudo, era música o tempo todo. Beatles e Peter Frampton me chamavam mais a atenção. Eu era um garoto, então não sabia a dimensão desses artistas. Quando assisti Mark Knopfler na TV com o Dire Straits tocando “Sultans of Swing”, fiquei apaixonado. Nesse dia, aos 14 anos de idade, decidi ser guitarrista.
Quais foram as maiores influências musicais na sua abordagem de tocar guitarra?
Muitos guitarristas moldaram a minha forma de tocar. No início ouvia muito o Mark Knopfler e tentava tirar os solos que ele fazia. Em seguida veio o Eric Clapton. Sem dúvida ele é uma das minhas maiores influências. Me apaixonei pelo blues ouvindo Clapton, sendo que a canção “Blow Wind Blow”, presente no álbum “Another Ticket (E.C)”, me marcou muito. Essa música é do Muddy Waters, ouvi-la pela primeira vez foi um tremendo impacto! Depois disso mergulhei definitivamente no blues. Por muito tempo estudei a maneira de tocar de B.B. King, Eric Clapton, Elmore James, Freddie King, Duane Allman e Mick Taylor.

Ao longo da carreira, você já dividiu o palco com muitos artistas importantes, dentre eles o saudoso B.B. King e o lendário Ronnie Wood (guitarrista dos Rolling Stones). Com quem você gostaria de subir ao palco para fazer uma jam, mas ainda não teve oportunidade?
Posso dizer que sou abençoado por ter dividido o palco com esses e outros músicos lendários. Fazer uma jam, acompanhar, abrir shows ou produzir um trabalho em parceria com eles elevou o meu nível musical e profissional. Quando comecei não imaginava que um dia estaria empunhando uma guitarra de frente com alguns dos meus ídolos. Nunca planejei nada, tudo foi acontecendo. O meu único desejo era tocar, ser músico. Não vou citar nenhum músico com quem gostaria de fazer uma jam, pois acho que nesse ponto já recebi muito mais do que sonhei. Só tenho gratidão!
Você conheceu o B.B. King, inclusive teve a oportunidade de tocar a famosa guitarra Lucille. Conte-nos um pouco sobre esse encontro.
Isso foi em 1995, quando o B.B.King fez uma participação no disco do Celso Blues Boy, foi o Celso quem me apresentou a ele, dizendo que eu era um guitarrista que ele gostava, além de ser também seu amigo. Eu o cumprimentei como se fosse o seu discípulo. E ele se colocou numa posição de igualdade comigo (como se isso pudesse ser verdade).
B.B. King escutou um trecho da música, entendeu a composição e foi gravar. Ele estava com sua guitarra sem o case e sem o seu afinador. Como estava acompanhando isso de perto, lhe ofereci o meu e ele me perguntou se eu poderia afinar a sua guitarra. Peguei o instrumento dele com todo o cuidado. Agachei e toquei corda por corda. Preparei a guitarra do B.B. King. Cheguei até a tocar uma nota e ele ficou olhando. Quando devolvi a guitarra, ele me agradeceu.
Na sessão, ele tocou, fez os seus solos e cantou junto com o Celso. Foi incrível! Nesse dia, levei a minha guitarra pra ele. Eu queria que, se fosse possível, ele a autografasse. Quando ele entrou na sala com aquela simpatia toda, senti que isso poderia acontecer. A produção chegou a nos falar que B.B. King atenderia todo mundo. No final da sessão, B.B. King assinou a minha guitarra. Esse instrumento estará sempre comigo. Foi uma grande alegria.

Você já realizou mais de trinta colaborações em estúdio com outros artistas. Sua abordagem de tocar muda quando você está fazendo esse tipo de trabalho?
O importante nesse tipo de trabalho é estar disposto a deixar o seu lado artista de canto. Se o artista que o contratou deseja ter aquela guitarra lead, a mesma que faço nos meus trabalhos, estou pronto! Entretanto, em alguns momentos você está só compondo o arranjo, para isso é necessário mudar o jeito de tocar. O mais importante nesse momento é a música e não a sua guitarra, então depende, estou sempre aberto a sugestões.
Existe algum novo artista de blues que chamou sua atenção nos últimos tempos?
Sim. De tempos em tempos aparecem jovens guitarristas de blues com muita destreza, isso nunca vai acabar. No Brasil gosto do Léo Duarte (filho do grande gaitista Sergio Duarte), ele toca o verdadeiro blues. Gosto também do Christone “Kingfish” Ingram e do Marcus King, quando eles tocam menos notas. (risos)
O último disco que você lançou foi o “Blood, Sweat & Electric” (2013). Lançar um álbum novo está no horizonte?
Sim. Pretendo lançar um disco ao vivo com a minha banda atual. Estou muito feliz com as apresentações e quero registrar esse momento. Acho que estou no meu melhor momento como instrumentista.
Em 2010 você lançou o livro didádico “Guitarra Blues do Tradicional ao Moderno” e em 2019 veio o segundo volume dessa publicação. Como foi a receptividade aos livros? Um terceiro volume está nos planos?
O primeiro livro vendeu mais de 4.000 exemplares, o Vol.2 está indo muito bem, o feedback está sendo incrível! Tenho muitas ideias para o lançamento de um novo material, o universo do blues dá essa possibilidade. Também tenho planos para um curso online, muitas pessoas entram em contato para saber se tenho esse formato disponível, algumas delas não conseguem ter aula comigo e gostariam de ter esse material para poder estudar no seu tempo.

Para aqueles que estão começando a se enveredar pelo mundo do blues, quais artistas ou discos você considera fundamentais para compreender o gênero?
São muitos os nomes importantes de artistas e discos do blues, nomear alguns deles não é uma tarefa fácil. Na guitarra, você não pode deixar de estudar os discos de Robert Johnson, Muddy Waters, Howlin’ Wolf, T-Bone Walker e B.B.King. Se você conseguir compreender a obra desses lendários músicos, definitivamente você será um guitarrista de blues.
Depois de mais de trinta anos de carreira como músico e professor, qual você acredita que seja o seu legado musical?
Essa eu deixo para as pessoas que acompanharam o meu trabalho, responderem no dia quando eu me for. (risos)
Maiores informações no site, Facebook, Instagram, YouTube e Spotify do Marcos Ottaviano.
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