Música e literatura: um bate-papo com Gustavo Guertler, CEO da Editora Belas Letras

Editora gaúcha é referência quando o assunto é literatura musical, disponibilizando ao público títulos de consagrados artistas nacionais e internacionais que vão do rock ao pop

Surgida em 2008, na cidade de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, a Editora Belas Letras rapidamente conquistou espaço nas estantes dos leitores brasileiros apaixonados por música, lançando projetos variados escritos por artistas como Humberto Gessinger (Engenheiros do Hawaii), Thedy Corrêa (Nenhum de Nós) e Neil Peart (Rush), além de biografias de ícones internacionais como Ace Frehley, Paul Stanley e Gene Simmons (trio de integrantes originais da banda Kiss), Antonhy Kiedis e Flea (membros do Red Hot Chili Peppers), Dave Mustaine (Megadeth), Lita Ford (ex-Runaways), Rob Halford (Judas Priest), Nikki Sixx (Mötley Crüe) e muitas outras.

Para conhecer melhor a história da editora, conversamos com seu fundador e CEO – Gustavo Guertler. Durante o bate-papo ele nos contou um pouco a respeito do surgimento da empresa, os desafios enfrentados no início do negócio, impressões acerca do cenário editorial brasileiro, a relação que possui com a música e outros assuntos.

Por Álvaro Silva (rotasongs@gmail.com)

Como surgiu a Belas Letras? Você poderia nos contar um pouquinho sobre história da editora?

Gustavo Guertler: Comecei a editora com um sócio, lá em 2008, depois de ouvir umas palavras muito inspiradoras: você está demitido! Isso mesmo, acabei sendo demitido da empresa em que trabalhava e aquilo de alguma forma me permitiu tempo (não muito, porque não nasci em berço de ouro) para me dedicar a trabalhar com livros, que são uma cachaça mesmo, quem começa nesse ramo vicia.

Quais foram os maiores desafios enfrentados no início do empreendimento?

Gustavo Guertler: Honestamente, não sei responder a essa pergunta, porque eram tantos que eu nem me preocupava com eles; se eu me preocupasse não teria ido adiante. É um pouco isso o início de qualquer negócio, se você para pra pensar em todos os motivos que você tem para desistir, você desiste. Eu estava mais preocupado em tentar fazer acontecer, e no final das contas essa também é um pouco da cultura que a gente ainda hoje tenta transmitir aqui na editora. Mas olhando em retrospectiva agora com mais calma, talvez o maior desafio, que é comum a todas as empresas, na verdade são dois: você ter um time e um produto matadores. O resto você resolve. Agora, sem essas duas coisas é muito difícil, porque é a essência. E quando eu falo time pode ser duas pessoas, mas que tenham um nível de resiliência, um desejo de fazer dar certo muito grande. Nesse ponto sou muito grato, me considero um sujeito de muita sorte, porque trabalho com pessoas melhores do que eu em muitas coisas e aprendo todo dia.

Como você enxerga o cenário editorial brasileiro no momento?

Gustavo Guertler: Não sou a pessoa certa pra responder, porque eu enxergo sempre o copo cheio, às vezes até demais e isso chega a ser um defeito em mim. Se você me disser que brasileiro não lê, vou dizer que essa é a maior oportunidade que uma empresa que publica livros pode ter; ou seja, somos sortudos por podermos ser um motor dessa mudança. O mesmo cenário pode ser visto sob várias perspectivas; outra pessoa aqui pode dizer que está ruim, e até trazer números e estatísticas para fundamentar. Agora, eu vejo que o mercado editorial está em transformação, assim como muitos outros mercados, e isso naturalmente gera uma ruptura com modelos convencionais. Eu acredito que quem está genuinamente preocupado com o leitor sempre vai ter mais chance de sobreviver e crescer nesses momentos de mudança.

Livro no Brasil é artigo de luxo como disse o Ministro da Economia Paulo Guedes?

Gustavo Guertler: Pois é, foi uma declaração bem infeliz, sim. Se a gente olhar para o preço de capa de um livro novo impresso, realmente, em geral ele não é um produto que se poderia chamar de popular. Mas aí o que você faz? Em vez de tentar buscar soluções para popularizá-lo, você elitiza ainda mais algo tão importante para o futuro do país? Não faz nenhum sentido.

Qual impacto para o mercado editorial brasileiro caso a isenção tributária para livros seja revogada?

Gustavo Guertler: Não fiz essa conta ainda, mas infelizmente quem vai pagar a conta é o leitor. Esse é o problema. O lucro das editoras em geral não chega a 12%, então não tem margem nenhuma para as empresas absorverem isso. O livro vai ficar mais caro. É uma pena se isso acontecer.

Tendo em vista que as pessoas estão confinadas em casa em virtude da pandemia, pode-se dizer que ela proporcionou um incremento nas vendas da empresa? A procura por livros aumentou?

Gustavo Guertler: Aumentou bastante, sim. As pessoas estão mais tempo em casa, com mais tempo para pensar em si, e acho também – é apenas um palpite mesmo – que essa tragédia toda nos fez refletir mais sobre a finitude da vida e sobre o que realmente importa para nós, sobre riqueza imaterial. Sobre aquilo que nos faz humanos, e acho que uma das coisas mais humanas que temos em nós é essa capacidade de se maravilhar, aprender e absorver histórias. Talvez seja algo que a música faz também. Ela muda tudo.

A Belas Letras possui em seu catálogo títulos muito importantes ligados ao segmento musical, notadamente no gênero biografia. Qual é a sua relação com a música?

Gustavo Guertler: Eu nasci no final dos anos 70, passei minha infância nos anos 80 e a adolescência nos anos 90, então fica fácil de entender tudo. Das brasileiras cresci ouvindo Legião, Paralamas, Ira!, Engenheiros, pra mim foi uma grande emoção ter tido a oportunidade de trabalhar anos depois com gente dessas bandas; as gringas tem também um monte, muita referência, não ia caber aqui, mas o que mais me marcou foi o grunge, Nirvana, Pearl Jam, eu acho que foi uma experiência muito incrível ter passado minha adolescência e juventude com essa trilha sonora e todo o significado que ela tem. Mas eu curto de tudo, punk, metal, classic, jazz, blues, gosto de ouvir de tudo mesmo, dou uma espiada nas playlists da minha filha de 12 anos às vezes, escuto K-Pop, nem sempre gosto de tudo, mas aprendi a experimentar coisas novas antes de julgar.

Como é feita a seleção da biografia musical a ser lançada? São considerados outros aspectos além da questão eminentemente mercadológica?

Gustavo Guertler: Claro. Na verdade hoje recebemos tantas sugestões de leitores que só elas já seriam suficientes para preencher um calendário razoável todo ano. A nossa curadoria leva em consideração muitas coisas, desde o quão icônico pode ser aquele livro para a história de um gênero específico, a relevância do artista ou do autor, a qualidade, o ineditismo, o quanto aquele livro pode realmente tocar o coração do fã. A gente vê nossos livros como joias, como memórias preciosas que fazem parte da vida de quem está lendo, como momentos que você não pode esquecer, porque eles te provocam emoções, sentimentos. Pois é: todo mundo não tem um show, por exemplo, que vai se lembrar para a vida toda de ter ido? A gente trabalha obcecado para que cada livro nosso represente um momento desses.

Ainda nesta seara musical, existe algum título que você lançou que te trouxe maior satisfação pessoal, isto é, que te deu mais orgulho por ter lançado?

Gustavo Guertler: A que vai me dar mais orgulho sempre vai ser o próximo, é assim que eu procuro pensar. Mas se eu fosse eleger os que mais me marcaram esse ano, por exemplo, eu elegeria os diários de Kurt Cobain, que ficaram acho que 17 anos até serem lançados no Brasil, e tem uma história muito curiosa de bastidores por trás disso; e o box do Paul McCartney, que a gente já colocou em pré-venda este ano mas ainda não lançou, o lançamento mundial é 2 de novembro. Bom, é Beatles, né, então até eu morrer eu vou ter a honra de contar que trabalhei nessas memórias musicais do Paul McCartney.

Acompanhando as redes sociais da Belas Letras, pode-se perceber que os lançamentos ligados à música têm sido uma constante nos últimos meses. Nós, leitores vorazes e apaixonados por música, podemos esperar mais novidades para este ano?

Gustavo Guertler: Olha, tem muita, mas muita coisa ainda, sim, da linha de música. Inclusive nos próximos meses, se tudo der certo, vamos lançar um clube de assinatura só para quem curte música.

Maiores informações no site, Facebook, Instagram, Twitter, LinkedIn, Pinterest e YouTube da Belas Letras.

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